sexta-feira, 6 de maio de 2011

O MUNDO FANTÁSTICO DOS SONHOS E O SURGIMENTO DO MITO




O MUNDO FANTÁSTICO DOS SONHOS E O SURGIMENTO DO MITO
Joás de Jesus Ribeiro ¹
 O mito ao contrário do que se pensava não foi inventado e nem criado como chega acontecer com as fabulas, mas ele é a manifestação daquilo que ocorre no período geralmente noturno, ou seja, nos sonhos. Essa definição é apresentada pela psicanálise, isso não descarta a definição filosófica de mito como representação do mundo, a psicanálise veio elucidar qual o processo que participa dessa representação. Na obra de Joseph Campbell, o herói de mil faces, a demonstração gira em torno da visão clinica que o mito vem se manifestar. É do inconsciente que os desejos aparecem sem uma restrição ou ate pudor, um mundo onde é possível realizar qualquer coisa e satisfazer os desejos. Pode-se dizer que são onde o mito nasce de fato e que logo após o sono, será no estado de vigília que eles são narrados e pensados ou apenas venerado como possivelmente ocorreu e ocorre com civilizações primitivas que chegam ate considerar um outro mundo e vida além desta. Foi do mundo desconhecido do sonho que as religiões se fundamentaram mais tarde nos hinos e cânticos de louvores aos deuses ou Deus, assim como a elaboração das suas escrituras sagradas. Os poetas e profetas deixam devidos créditos aos sonhos que são considerados revelações divinas, com esse significado o homem pôde fundamentar a sua crença, moral e costumes dando forma e face para a sua cultura. É diante do sonho que o homem considera possível a relação direta com o sagrado e onde os deuses ou Deus podem falar com ele e lhe entregar a mensagem a sua tribo ou aos povos, não é de se ignorar que ate hoje existem seitas ou religiões que veneram o sonho como fator crucial para uma revelação. Mesmo com o mapeamento do cérebro pela neurociência e a descoberta dos mecanismos que provocam o sonho ele ainda tem se demonstrado um mistério do inconsciente estudado pela psicanálise.

Palavra-chave: mito, manifestação, sonhos, psicanálise e sagrado.
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1 Introdução:
Para a psicanálise são dos sonhos que os mitos têm sua origem, é nele que o mundo fantástico é criado ou descoberto, então ela se preocupa em desvendar o que vem sendo mostrado pelos sonhos e apresentam a sua interpretação que têm como objetivo ajudar o paciente a superar determinada dificuldade que prejudica o seu cotidiano. O sonho revela as necessidades que o inconsciente têm que é reprimido ate mesmo por uma postura e conduta do paciente. O desejo aparece manifestado nos sonhos, por isso é comum ao empregado que durante o dia é humilhado pelo patrão ou chefe durante a noite sonhar discutido com ele quando não o lança pela janela do andar mais alto, a casos que um ente querido fala como se nada tivesse acontecido, ele torna a sua rotina e conversa no sonho, a rotina em uma atemporalidade sem um espaço físico definido. Talvez aconteça isso devido a saudade que a pessoa têm do ente querido e possui o desejo de vê-lo novamente. O medo também faz parte dos sonhos construídos pelo inconsciente, é comum o relato de pessoas caindo de um edifício ou sendo perseguidos por uma fera. A censura e o desprezo por algo podem muitas vezes surgir como desejo no inconsciente, sonhar em comer um alimento muito calórico quando se está de regime, assim como obter o ato sexual em sonho são fatores que revelam deficiência ou necessidades físicas do corpo, desde um obeso ao atleta e um compulsivo sexual ao religioso e castidade. Eles podem sonhar com aquilo que expressa os desejos mais íntimos para aqueles que ignoram no estado de vigília, ate o desejo explicito que se busca um domínio. Pois é o mundo de realizações, previsões, revelações e mensagens confusas, o qual forma os mitos como se conhecem, será nele a construção de uma moral e regras que através dessas experiências “inefáveis” toda uma sociedade e cultura serão fundamentadas, sejam guiados pelos poetas ou profetas os mitos tiveram e tem grande importância.

O inconsciente envia toda espécie de fantasias, seres estranhos, terrores e imagens ilusórias – seja por meio dos sonhos, em plena luz do dia ou nos estados de demência; pois o reino humano abarca, por baixo do solo da pequena habitação, comparativa corriqueira, que denominamos consciência, insuspeita caverna de Aladim. Nelas há não apenas um tesouro, mas também perigosos gênios: as forças psicológicas inconvenientes ou objetos de nossa resistência, que não pensamos em integrar – ou não nos atrevemos a fazê-lo – à nossa vida. Essa forças podem permanecer insuspeitadas ou, por outro lado, alguma palavra casual, o odor de uma paisagem, o sabor de uma xícara de chá ou algo que vemos de relance pode tocar uma mola mágica, e eis que perigosos mensageiros começam a aparecer no cérebro. Esses mensageiros são perigosos porque ameaçam as bases seguras sobre nas quais construímos nosso próprio ser ou família. Mas eles são, da mesma forma diabolicamente fascinantes, pois trazem consigo chaves que abrem portas para todo o domínio da aventura, a um só tempo desejada e temida, da descoberta do eu. Destruição do mundo que construímos e no qual vivemos, assim como nossa própria destruição dentro dele; mas, em seguida, uma maravilhosa reconstrução, de uma vida mais segura, límpida, ampla e completamente humana – eis o encanto, a promessa e o terror desses perturbadores visitantes noturnos, vindos do reino mitológico que carregamos dentro de nós.
(CAMPBELL,1992)

2  O fenômeno dos sonhos
Diante desse fenômeno, sonho, o homem primitivo não soube pormenor explicar o que era aquilo, o misterioso visitante das vezes que dormia. Foi nessa situação de contemplação de algo desconhecido, talvez com o sonho de caçar os mais perigosos dos animais de seu convívio ou fora dele que surge o resquício de um herói capaz de enfrentar os seus medos e dificuldades. Porventura no seu estado de vigília este sonhador anunciasse o feito de um homem em um mundo fora deste que conquistou a mais temida besta fera já criada pela natureza. Os feitos desse herói passaram de geração a geração sendo narrados em cânticos ou poesias ao redor das fogueiras que guardavam os homens do desconhecido mundo da escuridão afora.
3 O divino e o sonho
 A melhor forma de Deus ou deuses entrarem em contato com os homens era através dos sonhos, alguns se revelavam em imagens quase inefáveis, de outro era apenas possível ouvir a sua voz, enquanto uns apareciam através do fogo.  Este último que protegia os homens do desconhecido da escuridão, mas que não permitia que se aproximasse muito se não seriam consumidos, portanto os antigos perceberam que o fogo estava diretamente ligado com o sagrado era com ele que os sacrifícios a Deus ou deuses deveriam ser feito. O cordeiro era imolado como sacrifício a Deus, o boi era sacrificado para libertação dos espíritos dos mortos, assim como aves, répteis e outros animais que eram oferecidos nos ritos de passagem, todos esses sacrifícios oferecidos no fogo que consumiria e levaria para Deus e deuses, que receberiam o sacrifício como cheiro suave em suas narinas seguido de adoração e louvores que era o que mais Deus e deuses se agradavam. Com o dever comprido a caça seria abençoada, a tribo teria guerreiros fortes para protegê-la, mais tarde com o aparecimento das cidades tais crenças permaneceriam preservadas nos mitos e ritos.

Quando passamos, tendo essa imagem em mente, à consideração dos numerosos rituais estranhos das tribos primitivas e das grandes civilizações do passado, cujo relato chega até nós, torna-se claro que o propósito e o efeito real desses rituais consistia em levar as pessoas a cruzarem difíceis limiares de transformação que requerem uma mudança dos padrões, não apenas da vida consciente, como da inconsciente. Os chamados ritos [ou rituais] de passagem, que ocupam um lugar tão proeminente na vida de uma sociedade primitiva (cerimônias de nascimento, de atribuição de nome, de puberdade, casamento, de morte, etc), têm como característica a pratica de exercício formais de rompimento normalmente bastante rigorosos, por meio dos quais a mente é afastada de maneira radical das atitudes, vínculos e padrões de vida típicos de estágios que ficou para trás. Segue-se a esses exercícios um intervalo de isolamento mais ou menos prolongado, durante o qual são realizados rituais destinados az apresentar, ao aventureiro da vida, as formas e sentimentos apropriados à sua nova condição, de maneira que, quando finalmente tiver chegado o momento do seu retorno ao mundo normal, o iniciado esteja tão bem como se tivesse renascido.
(CAMPBELL,1992)

4 Poetas e profetas
Os mitos estão diretamente legados com o sagrado, pois coube aos poetas e profetas por intermédio de uma inspiração divina passar a mensagem entregue por Deus ou deuses. Essas mensagens provem muitas vezes dos sonhos, por isso Daniel um profeta da tradição judaico-cristã recebia suas profecias ou visão através dos sonhos. Com figuras e imagens que revelam situações que normalmente as pessoas podem sonhar, principalmente um homem que viveu em um período de crise cultural do seu povo. Há também varias historias de monges budistas e hindus que sonham com figuras sagradas que lhas entregam mensagens que se tornaram importantes para as suas religiões. Pouco se conhece sobre a religião dos gregos mais o que se sabe é que os poetas recebiam das musas a inspiração para narrarem do arquétipo aos feitos heróicos de personagens lendários que por sua vez deixam, exemplos para as gerações que surgiram depois dos feitos. O sonho é o maior responsável pela existência e crenças nessas revelações divinas, pode-se considerar o sonho o principal fundador de varias religiões, e o contribuídor das sagradas escrituras de diversos povos. O ethos se manifestou junto com os mitos para formação de excelentes membros das comunidades primitivas, o mito busca passar para as gerações futuras a forma ou postura e conduta de um individuo. O sagrado é constituído de todos os conjuntos de valores que uma determinada sociedade pode atribuir a uma crença, é ele que aponta o que pode ou não ser considerado crucial para, por exemplo, uma religião. Geralmente o sagrado possui seus representantes entre os homens que são os sacerdotes, somente eles adotam todo um sistema de costumes e crenças que os separa dos demais membros da comunidade, só eles escutam a voz de Deus ou deuses e possui a capacidade de passar ao povo o necessário. Os próprios membros sabem da importância de ter um líder religioso que realize tarefas que um individuo comum não teria tempo para fazer.
Hoje com o avanço da neurociência, algumas proposições do pai da psicanálise foram corroboradas, enquanto as atribuições sobrenaturais vem sendo a cada dia questionadas, ou seja, o mapeamento do cérebro demonstrou que mesmo com dormindo o cérebro continua com sua atividade normal. Segundo pesquisas da área o sonho não é algo próprio dos seres humanos, mas outras espécies de animais também sonham, esse momento geralmente noturno se manifesta com elementos recentes, ou seja, com aquilo que acontece durante o dia.
 Um cão pode sonhar passeando, ou brincando com um osso, isso pode representar o seu desejo em realizar essas tarefas que antes fez com seu dono ou sozinho durante o dia. Logo esse fator retira dos humanos a legitimidade de que só eles “sabem” sonhar. Mesmo com as criticas que a psicanálise vem sofrendo no próprio meio acadêmico boa parte de suas teses ainda são fortes e essenciais para a compreensão da mente humana, não no sentido de demonstrar o mecanismo como faz a neurociência, mas como identificar os códigos e significados que os sonhos trazem  para o paciente talvez as preocupações ou questões que existiam no século XX sobre a mente, voltado ao mecanismo tenha sido ou esteja sendo respondido pela ciência. Mas existem perguntas de dimensões filosóficas que tanto a psicanálise como a neurociência buscam também repostas. Desde o que é a consciência a questões de relação entre a mente e corpo. Atualmente os projetos de pesquisas cientificas apresentam a energia escura como solução de problemas para a compreensão do sistema cerebral. Isso trouxe um forte dialogo entre filosofia e ciência, a psicanálise também pode tirar algumas duvidas acerca do funcionamento do cérebro quando o individuo está dominado e criando o mundo fantástico no seu inconsciente.
  5 Considerações finais
Mesmo com a ciência definido o processo ou mecanismo do sonho ainda existe toda uma atribuição mística, o que faz parte de uma cultura e crenças dos povos, mesmo vivendo diante de tecnologias, a tradição que eleva os sonhos ao patamar de sagrado é bem forte, a ponto de escritores religiosos explorarem o assunto, para os seus fieis tanto religiões proféticas como o judaísmo, cristianismo e islamismo quanto as espiritualistas e sapienciais do oriente possui suas posturas doutrinarias diante dos sonhos, ou seja, o sonho está diretamente manifestado no sagrado. Aonde tem o sagrado existe o mito como aquele propulsor de valores e condutas morais para os indivíduos. Nem todos de inicial estão “preparados” para enfrentar algumas proposições que a psicanálise pode apresentar no que cerne a sua linha de estudo e pesquisa, por isso durante muito tempo alguns volumes das Obras de Freud não eram mais lidos devido o incomodo e angustia que causavam ao demonstrar o homem como aquele onde a sexualidade está presente todo o tempo. Diga-se de passagem, o sexo é algo que desperta curiosidade, mas por causa da postura e censura cultural, saber de determinados desejos provoca repugnarão daqueles que têm contato com a obra, é próprio do juízo de valor tradicional. Entender o sonho é desvendar o inconsciente de um individuo, é se expor ao psicanalista, que de forma ética não terá postura preconceituosa ou repressora, mas buscará ajudar o paciente em suas dificuldades. Talvez ajude até mesmo superar determinadas patologias que afetam a relação social do individuo como, por exemplo, as psicopatologias, a depressão e outras doenças que afetam a vida e a mente daqueles buscam ajuda com essa ciência que mesmo sendo questionada trouxe grandes contribuições.

                   


BIBLIOGRAFIAS
Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Editora Cultrix, São Paulo. Ano 1996.
Szklarz, Eduardo. Por que sonhamos? Das velhas teorias psicanalíticas à moderna neurociência; que a ciência sabe sobre esse curioso fenômeno? Super Interessante, São Paulo; edição 240° - A , p 57, jnho- 2007.


A FILOSOFIA E A ESCRITA




A FILOSOFIA E A ESCRITA:
A relação dos filósofos gregos com a escrita
Joás de Jesus Ribeiro ¹

Resumo:

A tradição transmitiu de forma subtendida que os gregos já eram letrados e doutos deste o seu inicio mais remoto, mas esqueceram de que eles viveram durante muito tempo assim como outros povos que os cercaram debaixo do jugo atribuído pela tradição oral. Ate mesmo o grande poeta como Homero pode ter vivido esse período, que requisitava apenas uma boa memória para passar adiante as fabulosas e esplêndidas narrativas. Com o desenvolvimento da escrita os gregos conseguiram finalmente sofisticar o modo de preservação das tradições culturais . Foram essas praticas que contribuíram paras o surgimento dos filósofos, e que preservaram uma parte mínima do que restou de um povo que contribuiu para a formação daquilo que mais tarde seria chamado de humanismo no ocidente. Logo os textos deixados foram utilizados pelos povos conquistados, mas que também foram conquistados e seduzidos pelo logos  grego, os romanos instituíram em suas raízes latinas o clássico grego , os bárbaros constroem a idade media com boa parte da tradição Greco-romana e os renascentistas dão vida ao antigo pensamento pagão , na modernidade  surgiram pensadores  que dialogaram com essas tradições , a revolução da escrita na Grécia trouxe grandes contribuições no mundo Ocidental.
Palavras chaves: memória, narrativas , escrita, tradições , ocidente.
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1 Introdução:

Os sumérios são um s dos povos que desenvolveram a escrita, na região da fenícia surgiu um sistema de escrita que deu origem aquilo que seria chamado pelos gregos de alfabeto. Logo o conhecimento desse sistema de escrita proporcionaria a perpetuação de mythos (narrativas) para as próximas gerações sem que precisa-se ser por via oral, assim como postulados filosóficos que não se prendiam mais nas explicações das narrativas , mas procuravam por intermédio da physis compreender o Cosmos. Muitas obras acerca do mythos feita pelos poetas e da physis feita pelos filósofos se perderam , porem os fragmentos dão a idéia do esplendor que essas obras possuíam . foi esse repasse de tradições de pensamento de uma geração para outra que propiciou o “ dialogo” entre o pensamento aristotélico e o pré-socrático . Mas a grande discussão que ajuda a elucidar essas questões cerne aos pré-socráticos os quais estavam mais perto ainda da forte influencia dos mythos. A forma que Homero e Hesíodo compreenderam o Cosmo através das revelações entregues pelas musas tinha forca no pensamento grego, tais influencias acabaram interferindo no mudo de dizer dos pré-socráticos principalmente com aqueles  que buscavam um principio gerador do Universo , diferente das cosmogonias a explicação  de mundo apresentada por eles possuía um logos mais sofisticado e questionador . pode-se dizer que estava surgindo os primeiros métodos de analise do pensamento humano , é importante lembrar que esses pensadores não abandonaram de uma vez por todas os seus ritos e credos, já que é fácil identificar algo peculiar de suas tradições  presentes em suas obras , ate mesmo Sócrates e Platão ainda tinham forte a feições as narrativas mesmo discordando da postura dos poetas.
Porque, segundo julgo, diviamos que os poetas e prosadores proferirem os maiores erros acerca dos homens: que muitas pessoas injustas são felizes, e desgraçados as pessoas, e que é vantajoso cometer injustiças, se não forem descobertas, que a justiça é um bem nos outros, mas nocivo para o próprio. Tais opiniões, dir-lhes-íamos que se abstivessem delas, e prescrever-lhas-íamos que contassem a narrativa o contrário. Não achas?
(Platão, livro III; 392 a – e)
2 Os escritos perdidos:

Não há um desprezo as narrativas, como muitos tendem a considerar, mas uma proposta para uma nova visão do mundo na concepção grega. Para Platão esse mundo deveria está pautado na justiça e verdade, fundamentados na idéia de Bem. Os pré-socráticos possuíam também uma visão diferente das narrativas de suas culturas, por exemplo, Tales de Mileto considerava água como o principio do Cosmos, para ele a physis vinha dessa substancia que é essencial para a vida e a existência do mundo. Pitágoras não se prendia mais as teogonias e cosmologias egípcias , ele por sua vez compreende o mundo através dos números que segundo ele era o principio do mundo. Elementos da physis tomam a cena no período de investigação e especulação dos pré-socráticos ou filósofos da physis. Cada doutrina ou corrente filosófica precisava da discípulos para perpetuarem os seus pensamentos  a escrita teve um papel importante durante o desenvolvimento desse novo método de pensar que se distinguia da visão mítica do mundo. Boa parte o que escreveram os filósofos da physis se perderam no decorre do tempo, muito pouco se sabe do que eles pensavam e escreveram os fragmentos e comentários feitos por pensadores posteriores ajudaram a preserva o pouco que restou. O próprio Aristóteles comenta alguns desses pensadores, o que se sabe hoje é apenas perspectivas da visão dos filósofos depois de Sócrates isso deixa uma incógnita muito grande sobre o modo de pensar dos pré-socráticos.
3 O logos grego e o desenvolvimento da escrita:

(...) O que era lógico para Homero o era igualmente par a Aristóteles (...). Em suma, língua tinha uma lógica comum, que finalmente foi formalizada por Aristóteles. A melhor ilustração de como este pressuposto funcionava era visível no próprio dicionário de grego (...)
(Havelock,Eric A.1996,235)

Diferente do que se adquiriu como problemas criados por causa das traduções, os gregos possuíam a nítida compreensão daquilo que os poetas e filósofos falavam, logo eles estavam basicamente inseridos na mesma cultura e língua, isso facilitava o entendimento entre Aristóteles e Homero, por exemplo, entre Sócrates  e um simples ateniense cidadão da polis . A língua era a grande ferramenta que proporcionava o “dialogo” de obras fossem elas poéticas ou filosóficas. Esse era o cenário existente na Grécia antes da conquista de Alexandre, que após sua invasão a dissolução das polis trouxe transformações na forma de pensar grega. O governo de Alexandre era cosmopolita , ele não considerava outros povos como bárbaros ao contrario do seu mestre Aristóteles. Nesse governo a cultura grega foi disseminada nas nações  conquistadas no oriente , então  surgi um dialeto da língua grega resultado desse conquista , era o grego koiné. Boa parte dos manuscritos encontrados hoje estão nesse grego e possuem a datação desse período. Será que houve mudanças com essa nova concepção de cultura grega ? Pode-se considera que sim, logo porque os povos conquistados também provocaram certas influencias no Ocidente.
(..) Se a língua é um espelho de pensamento , e se a semântica da língua consiste de um  sistema de partes intercambiáveis, então o pensamento dos gregos constitui um sistema similar.
(Havelock,Eric A.1996,235)

Porém a cultura grega foi disseminada no oriente graças aos escritos, que transpassaram o pensamento de uma nação dominante sobre as conquistadas, a Palestina e o Egito são exemplos desse acontecimento. Tais povos que tinham como idioma o hebraico, aramaico, copta e a língua do antigo Egito passaram a ser obrigados a negociar na nova língua comercial, o grego , logo não tardou muito e vários manuscritos religiosos, comerciais e administrativos passaram a ser comuns na região. É nesse período que as escolas socráticas menores espalharam os pensamentos dos filósofos gregos dentre essas colônias, causando um certo impacto cultural nesses povos “bárbaros”. Foi esse acontecimento que deu êxito para a filosofia que pode se considerada um produto da cultura no Ocidente.
 A forca dessa língua foi tão grande a ponto de deixar influencias nos adeptos de uma seita judaica que estava nascendo, a qual mais tarde seria o cristianismo, o apóstolo Paulo de Tarso é um exemplo disto. Seu comportamento lembra muito os epicuristas, na forma de repasse de seus pensamentos através de viagens missionárias coisa que os epicuristas tinham, assim como a organização sistemática da idéia de bem e verdade na figura de Cristo. Usando uma “lógica” os cristãos aprenderam a organizar suas doutrinas religiosas utilizando um pouco da tradição grega para a fundamentação da nova Fé baseado em um Reino supra terreno similar ao mundo das Idéias perfeitas de Platão.
A escrita possibilita o desenvolvimento do raciocínio lógico. O qual poderiam ser apresentados com facilidade nos manuscritos, então a preservação destes textos estava garantida para as próximas gerações. Apesar que o repasse da tradição e a formação do grego dependesse ainda da oralidade a filosofia começou a possuir seu primeiro acervo. Outro grupo que também se empossou da escrita foram os poetas, é importante lembrar que eles tinham as revelações divinas e que em épocas remotas na Grécia era usada apenas a tradição oral. Há uma diferença entre os poetas e escritores, ser um poeta grego não significava necessariamente que se fosse um escritor. Obviamente com o passar dos séculos esse grupo acabou utilizando a escrita.
Foi com Aristóteles que o raciocínio lógico ganhou uma “formatização”, muitos enunciados lógicos foram feitos pelo filósofo, o silogismo é o grande representante da lógica aristotélica que diferente das narrativas poéticas, não se prendia mais em algo que dependesse da beleza ou tragédia para ser representado. Mas uma linguagem que pudesse ser entendida através da analise do logos. Pode-se considerar que esse período é o auge do desenvolvimento da escrita na Grécia. Aristóteles escreveu em grego e para os gregos, ele não tinha nenhuma preocupação em repassar seu enunciado para outros povos. Porque ele supervalorizava a sua nação, não considerando a capacidade de raciocínio das outras nações que segundo ele viviam em estado de barbárie e não se preocupavam com a busca pela sabedoria.
4 A relação dos filósofos com a escrita:

Qual foi a relação dos filósofos gregos com a escrita? Seriam eles grandes escritores? Sócrates o grande representante da filosofia nada escreveu até mesmo Homero, o poeta, pode não ter escrito nada, isso traz a antiga discussão acerca da existência desses homens, mas o que se tem de prova sobre o relacionamento dos filósofos e a escrita é aquilo que chegou ate hoje. Em algumas escolas socráticas menores se preservou a forma de expressar os pensamentos pela oralidade, por isso muita doutrinas filosóficas dessas escolas se perderam. Alguns acreditavam que havia reflexões que não podiam ser expressa simplesmente em um papiro, devido a sua grandiosidade, muitas reflexões filosóficas adquiridas na academia fundada por Platão se perderam porque jamais foram postuladas pela escrita.
Então observa-se que nem sempre as reflexões filosóficas dependeram da escrita para serem repassados, mas isso não significa que os primórdios da filosofia era não letrados, a interpretação correta é que existia um esoterismo peculiar a cada corrente, o sentido de esoterismo remete a restrição de “idéias peculiares” a determinado grupo, ou seja, os epicuristas possuíam enunciados que só eles tinham acesso pela oralidade. Porém no Fedro já se encontra elementos que demonstram o espaço que a escrita estava conquistando na educação dos jovens e ensino dos discípulos, Sócrates por sua vez analisa os postulados escritos de um sofista, logo trata-se de uma analise filosófica sobre uma obra.
(...)de fato, nem a de nossa língua, nem qualquer sintaxe moderna, pode dar conta da condensação original.
(Havelock,Eric A.1996,252)
Considerações Finais:

Só um grego que viveu naquele contexto pode ser considerado aquele que teve acesso as interpretações originais. Muitos do que se diz hoje está “corrompido” pelo nosso próprio contexto e visão de mundo. Mas isso não impossibilita uma analise hermenêutica e filosófica dessas obras produzidas, porém é importante a consciência das limitações encontradas por causa das grandes lacunas deixadas na antiga tradição, seria correto afirmar que pouco se conhece sobre a interpretação original.
As traduções e interpretações das obras filosóficas gregas são um desafio para uma tradição pós-moderna. Há vários comentadores que buscam elucidar lacunas deixadas durante a história do ocidente. Foi a escrita na Grécia a contribuidora da filosofia o que possibilitou uma hermenêutica que deste os medievais aos pós-modernos vem se preocupando com questões que cerne uma interpretação mais próxima possível da original. Quando Avicena e Averrois dedicam seus estudos para uma lógica aristotélica observa-se uma atenção mais minuciosa dos textos. Os comentários feitos por eles trouxeram transformações no modo de pensar do Ocidente que até então não tinha o acesso a essas obras preservadas no Oriente. Trata-se de uma analise profunda de escritos que sobreviveram durante anos de esquecimento, mas que depois suas aparições revigoraram o renascimento de uma tradição que possuía elementos perdidos. Desde o momento que os gregos tiveram acesso a algo criado pelos sumérios e formatado pelos fenícios, houve grande transformação na cultura grega que deixou de ser composta por simples colônias de pastores e pescadores para ser o berço da valorização da Razão. Por isso o pensamento tácito de que a Grécia é o que é na tradição por causa do seu alto nível cultural. Não esquecendo que havia um período que a escrita não existia, só depois se passou a documentar uma parcela do modo de viver e pensar do grego.





















Bibliografia:

Havelock Eric A. a revolução da escrita na Grécia e suas conseqüências culturais; tradução: Ordep Jose Serra, editora UNESP – São Paulo/ Paz e Terra- Rio de Janeiro, 1996.

Platão, República, tradução: Pietro Nassetti, editora Martin Claret – São Paulo, 2009.